Arrebatamento, Antes ou Depois da Tribulação?

O termo “arrebatamento” não se encontra nas versões da Bíblia em português, mas passou a integrar a terminologia cristã como uma tradução da palavra inglesa rapture, uma transliteração de rapiemur (de rapio, ou raptio). Foi o vocábulo usado por São Jerônimo na Vulgata, ao traduzir a passagem 1 Tessalonicenses 4:16-17, a qual descreve como o salvos de todas as eras, tanto os vivos quanto os mortos, serão “arrebatados” para encontrar Jesus no ar na Sua segunda vinda.
Uma das maiores polêmicas envolvendo as profecias sobre o Tempo do Fim diz respeito a quando Jesus voltará para “arrebatar” todos os que O receberam como Salvador. Será antes ou depois do período de três anos e meio conhecido como “A Grande Tribulação”?
Os que crêem no arrebatamento antes da Tribulação argumentam que Jesus voltará em segredo para levar todos os cristãos nascidos de novo (salvos) deste mundo para o Céu. Dependendo de quando eles acreditam que acontecerá o início da Tribulação, isso seria no início ou no meio do governo de sete anos do Anticristo.
No centro da doutrina pré-tribulação estão várias passagens que comparam a segunda vinda de Jesus a um ladrão à noite e também as suposições que o Seu retorno e o Arrebatamento são dois acontecimentos distintos.
 
Com relação à Sua volta, Jesus disse aos discípulos: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas unicamente o Pai… Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro. Estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada a outra. Portanto vigiai, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. Mas considerai isto: Se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que sua casa fosse arrombada. Por isso estai vós também apercebidos, porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis” (Mateus 24:36, 40-44).
Aqui representa Jesus vindo como um ladrão e pessoas subindo ao Céu no Arrebatamento ao mesmo tempo. Nada indica a existência de eventos separados.
Em outra passagem do “ladrão”, o apóstolo Paulo ensina: “Mas, irmãos, acerca dos tempos e das épocas, não necessitais de que se vos escreva, pois vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de noite. Quando andarem dizendo: ‘Há paz e segurança’, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão” (1 Tessalonicenses 5:1-3).
A expressão “repentina destruição” e a analogia com as “dores de parto” deixam claro que o retorno de Jesus será dramático e traumático para os que não forem levados — certamente incompatível com a doutrina de arrebatamento antes da Tribulação que defende um arrebatamento secreto e silencioso.
A mensagem nessas duas passagens do “ladrão” é que a volta de Jesus será repentina e inesperada, motivo pelo qual devemos estar atentos aos sinais dos tempos e manter nosso coração reto diante dEle, para estarmos prontos.
Outra passagem do “ladrão” muitas vezes aplicada ao Arrebatamento é, no contexto em que está escrita, uma advertência específica aos cristãos da época de João que viviam na cidade de Sardis, na Ásia Menor Ocidental (atual Turquia). Nela, Jesus diz: “Lembra-te, pois, do que recebeste e ouviste, e guarda-o, e arrepende-te. Mas se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei” (Apocalipse 3:3).
Mais uma vez, repete-se a mesma mensagem das outras passagens do “ladrão”: Precisamos manter nosso coração reto com Jesus para estarmos prontos para encontrá-lO quando morrermos ou quando formos levados ao Seu encontro no Arrebatamento.
 
Uma quarta passagem do “ladrão” às vezes adicionada à receita não tem absolutamente nada a ver com o Arrebatamento, mas fala da destruição e subseqüente recriação da superfície e da atmosfera da Terra, aproximadamente mil anos após a volta de Jesus, ao final do período conhecido por Milênio: “Mas o dia do Senhor virá como um ladrão. Os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a Terra e as obras que nela há, serão descobertas” (2 Pedro 3:10).
Agora vejamos algumas das passagens que servem de esteio para a teoria do Arrebatamento depois da Tribulação.
 
Logo antes de fazer a analogia entre Sua volta com a investida surpreendente de um “ladrão”, Jesus disse aos discípulos: “Logo depois da aflição daqueles dias, o Sol escurecerá, a Lua não dará a sua luz, as estrelas cairão do firmamento e os corpos celestes serão abalados. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todos os povos da Terra se lamentarão e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E Ele enviará os Seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus” (Mateus 24:29-31).
 
Jesus disse que Sua volta se daria depois da Tribulação e que é quando Seus anjos virão para recolher todos os que O tiverem recebido como Salvador, no Arrebatamento. Não poderia ser mais claro!
Além disso, o apóstolo Paulo explica que o Anticristo já estará no poder e “sentado no templo de Deus” quando o Arrebatamento acontecer e sabemos com base nas outras passagens que isso ocorre após o Anticristo romper a “santa aliança”, o que acarretará a Grande Tribulação. “Ninguém de maneira alguma vos engane, pois isto [o retorno de Jesus] não acontecerá sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição [o Anticristo]. Ele se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto, de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus” (2 Tessalonicenses 2:3-4).
 
Paulo também afirma que isso acontecerá ao soar da última trombeta — a mesma da qual Jesus falou em Mateus 24:31: “Pois o mesmo Senhor descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro. Depois nós [os salvos], os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor” (1 Tessalonicenses 4:16-17). “Eis que vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao soar a última trombeta. Pois a trombeta soará, e os mortos ressurgirão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1 Coríntios 15:51-52).
E por fim, está claro nas profecias nos livros de Daniel (538 a.C.) e Apocalipse (90 d.C) que o Anticristo fará guerra contra todos os santos — todas as pessoas que tiverem nascido de novo — durante a Tribulação, cuja duração é predita especificamente em diversas passagens.
“Eu olhava, e vi que este chifre [o Anticristo] fazia guerra contra os santos, e os vencia, até que veio o Ancião de Dias [Deus], e foi dado o juízo aos santos do Altíssimo, e chegou o tempo em que os santos possuíram o reino… [O Anticristo] Proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e as leis. Eles serão entregues em suas mãos por um tempo, e tempos, e metade de um tempo [três anos e meio]” (Daniel 7:21-22, 25).
Sim, a Grande Tribulação será um período difícil, mas Deus fará redundar para o nosso bem e nos ajudará a atravessá-lo vitoriosos. Sobre isso, Daniel escreve: “O povo que conhece ao seu Deus se tornará forte, e fará proezas. Os entendidos entre o povo ensinarão a muitos” (Daniel 11:32-33).
A Grande Tribulação também será um período no qual muitos recorrerão ao Senhor, pois aqueles que conhecerem Deus e entenderem o que está acontecendo manifestarão grandes poderes e ganharão para o reino eterno de Deus muitos dentre os opositores do Anticristo e seu regime. As trombetas da Tribulação anunciarão os julgamentos sobre os ímpios — não sobre os justos, os quais estarão sob a proteção de Deus nesse período.
“Estes [a grande multidão diante do trono de Deus e de Jesus] são os que vieram da Grande Tribulação” (Apocalipse 7:14). Em outras palavras, passaram por ela. Deus livrará Seus filhos em tribulação, não os isentará das aflições!
 
Paula Jordem
Scott MacGregor