Ghost tenta criar clima sinistro, mas público não acompanha no Rock in Rio

Os chifrinhos na plateia do show do Ghost nunca pareceram fazer mais sentido. Com um visual obscuro e referências nada elogiosas à cultura cristã, o grupo sueco foi a segunda banda a subir ao Palco Mundo nesta quinta-feira (19), quarto dia de festival e o primeiro claramente dedicado ao heavy metal.
O vocal do cantor com nome em latim de Papa Emeritus 2º não é rasgado e gutural como o de Derrick, do Sepultura, ou agudo como o de Sebastian Bach, para citar atrações que já passaram pelo Rock in Rio 2013.
Já o som é, curiosamente, menos pesado do que as bandas de metal normalmente associadas com satanismo e afins. Os suecos misturam influências que vão desde o heavy metal clássico desenvolvido pelo Black Sabbath até o thrash metal atual, sempre com músicas marcadas por um tom macabro.
Mas o Papa do Ghost é simpático. Logo após a faixa "Infestissumam", que integra o álbum homônimo lançado em 2013, o cantor sueco saudou o público brasileiro com um "boa noite" em claro e bom português.
Sua verdadeira identidade, assim como a dos demais integrantes, é desconhecida. Nada novo no rock: Slipknot e Brujeria já fizeram isso há anos; no Brasil, o Pavilhão 9 começou a carreira com gorros na cara. Os demais integrantes são conhecidos como "ghouls" -- algo como morto-vivo em tradução livre para o português.
"Papa" disposto, súditos nem tanto
O "Papa", por sinal, canta como se estivesse no comando de um coral, balançando os braços e orientando seus pupilos -- no caso, a plateia na Cidade do Rock, pouco menor do que na apresentação anterior, do Sepultura.
Mas as pessoas não pareceram ser muito fiéis. O Ghost pouco conseguiu arrancar da plateia além de palmas e risos por conta da indumentária da banda -- com maquiagem carregada, similar ao que se observa em festividades mexicanas.
Ao término das músicas, o "Papa" perguntava como a plateia estava. Como não obtinha resposta, seguia tocando. Faixas mais famosas como "Secular Haze" estiverem no repertório da banda, sem empolgar uma plateia que parecia mais ávida a esperar pelo Metallica do que a entrar no clima sinistro emanado pela banda.
Formado em 2008, o grupo traz um som menos pesado do que as atrações da noite no Palco Mundo, mas tão cheio de camadas como os das demais bandas que vão tocar no Rock in Rio. Letras que aludem a satanismo, catolicismo e entidades como zumbis são misturadas com uma sonoridade influenciada por hard rock e heavy metal, mas com forte presença de teclados. Com apenas dois álbuns, a banda entrou para o circuito de festivais mundo afora como o Lollapalooza e o Coachella.
"Pai-Nosso" alterado
Mesmo com uma apresentação competente, o Ghost somente empolgou de verdade quando apresentou a música "Year Zero". Ao notar os aplausos, Emeritus II resolveu se dirigir aos "fiéis" novamente. "Finalmente chegamos ao Brasil. Nós nos sentimos bem e vocês?", perguntou o vocalista. Tão educadamente quanto antes, o "Papa" em seguida anunciou a faixa "Ritual", que traz letras que alteram o texto original do "Pai-Nosso".
Pouco antes do fim, escuridão e silêncio tomaram conta do palco até o som do piano ser ouvido para a música "Ghulen", que traz uma voz no começo que lembra o som de assombrações nos filmes de terror atuais. Já a canção em si não poderia ser mais calma, trazendo uma atmosfera diferente para a apresentação -- menos voltada ao impacto e mais baseada em "clima".
Ao término da apresentação, é inevitável a sensação de frustração quanto aos temas densos e provocadores propostos pela banda, que são embalados com uma sonoridade não tão desafiadora assim. Apesar de muito talentosa, a banda não chegou a empolgar o público, que estava mais curioso em entender o que se passava no palco -- uma espécie de charada a ser resolvida, entre um sanduíche e outro dos famintos à espera do show principal da noite.
Fonte Bol
Paula Jordem